quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Rubras



O PROJETO

Aprovado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROMIC) o filme “Rubras Mariposas” será rodado no ano de 2011 em Londrina, Paraná. O curta-metragem, em suporte digital e finalizado em 35 mm, será dirigido pelo proponente do projeto, Anderson Craveiro (também responsável pela fotografia).

Anderson Augusto Marques Craveiro é graduado em Artes Visuais-Multimídia, especialista em Comunicação Visual em Mídias Interativas, mestrando em Comunicação. Professor universitário nos cursos de Artes Visuais-Multimídia, e Curso de Pós Graduação de Comunicação Visual em Mídias Interativas da Unopar (Universidade Norte do Paraná), além de ministrar cursos e oficinas de realização em Cinema. Um dos fundadores e atual Vice-presidente da Kinoarte (Instituto de Cinema e Vídeo de Londrina), membro do Conselho Municipal de Cultura na área de Cinema e Vídeo (2003 – 2009) e membro associado da ABC (Associação Brasileira de Cinematografia). Atua em produções cinematográficas como diretor e diretor de fotografia e também em produção de vídeos empresariais e VT´S publicitários. Em seu trabalhos inspira-se bastante no diretor Jodorowysk, inclusive sua dissertação de mestrado tem como objeto os filme do diretor. Entre seus trabalhos pode-se destacar: “João Pipoca”, Direção, (mini-DV), (2004); “Satori Uso” 1º Assistente de Fotografia, (35mm), (2006); “Maria Angélica” 1º Assistente de Fotografia, operador de câmera, (35mm), (2006); “Booker Pittman”, 1º Assistente de Fotografia, operador de câmera (35mm), (2007); “Haruo Ohara” , 1º Assistente de Fotografia, operador de câmera (35mm), (2009) e “Galeria” Diretor de Fotografia, (HD), (2010).

Participarão do filme, além de atores locais, Maria Alice Vergueiro (atriz brasileira de teatro com extensa carreira nos palcos, no cinema e na televisão. Participou de alguns dos mais importantes e instigantes espetáculos da cena paulistana nos últimos 40 anos. Entre eles: O Rei da Vela, direção de José Celso Martinez Corrêa; Mahagony Songspiel , direção de Cacá Rosset, Electra Com Creta e Katastrophé , direção de Gerald Thomas), Luciano Chirolli (ator brasileiro de teatro, cinema e TV, sendo destaque, entre outros projetos, na TV Globo em 2010 na minissérie Tempos Modernos e em 2006 na novela Páginas da Vida e nos filmes Bruna Surfistinha (2011) e Meu Pais que estréia em 2011, onde atua ao lado de Rodrigo Santoro) e Mário Bortolotto (ator, diretor, dramaturgo e compositor, nascido em Londrina e radicado em São Paulo, é conhecido nacionalmente por seu estilo calcado em histórias em quadrinhos, cinema, blues, rock e o universo beatnik).


O projeto Rubras Mariposas irá traçar um panorama poético, misturando as linguagens ficcional e documental, da Londrina boêmia desde seu auge nos anos 50 até sua decadência nos anos 70, em paralelo à história da economia cafeeira da cidade, com uma pitada de surrealismo.

O EMBASAMENTO HISTÓRICO, A PESQUISA E O RETRATO QUE SE PRETENDE FAZER

Nos últimos 50 anos, os historiadores têm buscado novas formas para abordar seus objetos de estudo, procurando propostas para um maior aprofundamento da pesquisa dos fatos históricos, desviando das barreiras impostas pelas análises focadas somente nos fatos tidos como oficiais. Ao se concentrar na análise de documentos oficiais, tendo como alicerce o Estado, acaba-se, muitas vezes, deixando de lado as manifestações sociais menos formais, consideradas marginais à sociedade, que são, porém, extremamente ricas em relatos intensos e verdadeiros que possibilitam ao homem buscar sua história através da sua própria pluralidade. É desse conceito que extraímos nossa missão principal: a de falar de um período histórico da nossa cidade por um viés que não seja o tradicional. Nosso objetivo é buscar novas perspectivas ao falar da mesma história contada nos livros e dessa forma retratar um fragmento histórico de Londrina, os costumes da época e o modo de viver de seus habitantes, sob a ótica da boemia, focada no ambiente e nas pessoas que frequentavam os cabarés e os carnavais de rua e também nas histórias de amor e ódio, de relacionamento e dos grandes negócios, das tragédias e comédias do cotidiano, com a intenção de um resultado fragmentado e global, que não necessariamente atenha- se a um compromisso formal com a reprodução da veracidade dos fatos ocorridos em Londrina. Não se pretende contar uma única história, mas várias sobre este mesmo período.

Londrina, à época do “ouro verde” foi considerada a “capital mundial do café” e respondia por 25% da economia nacional. E com tanto dinheiro rodando pela cidade, a noite e a boemia local pulsavam no mesmo ritmo. Com o passar dos anos, veio a decadência do glamour em decorrência do declínio da economia cafeeira, que teve seu início na famosa geada de 1970.

Sabe-se que a cidade de Londrina passou por um processo de colonização muito específico. Londrina não “nasceu” simplesmente. Foi um processo eletivo, com local definido e escolhido pela Companhia de Terras Norte do Paraná, sob a orientação dos ingleses. Num espaço de tempo muito curto, a terra fértil da região fez com que a cidade fosse colocada de pé, na lama, mas cheia de homens munidos de enxadas, pás, picaretas, esperanças e principalmente, saudades de casa, afinal, àquela época, o lugar não era recomendado para mulheres e crianças, era lugar só de trabalho.


Londrina cresceu pelas mãos desses pioneiros incansáveis. Em 1925 foram vendidos os primeiros lotes de terra, em 22 de agosto de 1929 o primeiro marco foi oficialmente fincado. Cinco anos mais tarde, através de Decreto Estadual assinado pelo interventor Manoel Ribas, foi criado o Município, era 10 de dezembro de 1934. No mesmo ano Getúlio Vargas é eleito Presidente da República; Ary Barroso começa a trabalhar na rádio São Paulo; Monteiro Lobato lança o livro Emília no país da Gramática; nasce Cauby Peixoto; Adolf Hitler adota o título de Führer; o filme Aconteceu Naquela Noite, dirigido por Frank Capra, se torna o primeiro filme da história a conquistar as cinco categorias mais importantes do Oscar (filme, diretor, ator, atriz e roteiro); a segunda Copa do Mundo da história é disputada na Itália; na Escócia é feita a célebre “foto” do Monstro do Lago Ness. O mundo fervia. Anos que traçaram bases fortes para o desenvolvimento da nossa sociedade atual.


Em Londrina, ‘capital’ do norte pioneiro, o café plantado era o responsável pelo grande crescimento da economia, quanto mais se ganhava com o café mais se investia no desenvolvimento. Muitos negócios eram fechados pelos empreendedores locais, a pequena cidade fervilhava de gente em busca de trabalho e dinheiro e tudo a volta se multiplicava. A propaganda da terra fértil corria o mundo e muitas levas de trabalhadores chegavam, uma babel com homens advindos de mais de 40 países. Em 1932, chegava a primeira jardineira. 

Em 1935, o trem e em 1940 a empresa Arco Íris lançou sua primeira linha aérea comercial. Houve um boom populacional, a economia estava aquecida.

Aí começa o nosso recorte histórico: simultaneamente a esse progresso, cresciam as opções de diversão. Assim, com as levas de trabalhadores, chegavam também as “mariposas”, moças que se ocupavam em entreter estes homens. Todas tinham seus protetores, de trabalhadores ordinários a altos funcionários da Cia. de Terras. A Rua Rio Grande do Sul se transformou no centro de “entretenimento” da cidade. Onde existiam homens e dinheiro, proveniente do café, tinha de haver também um lugar para afogar as mágoas, se divertir e fechar negócios e parcerias. Esses locais, comumente chamados de cabarés, nunca foram tão somente centros de diversão, comércio sexual ou de uso de drogas lícitas ou ilícitas, como pode ser definido de modo raso. Em todo o mundo essas casas foram, desde o início século XIX, verdadeiros centros catalisadores e irradiadores de cultura, onde se reuniam os pensadores, artistas e homens de negócio para discutir e traçar os pilares da economia, da arte, da filosofia e da política.

Em 1975 o escritor João Antonio veio a Londrina para integrar a equipe do jornal londrinense chamado Panorama, e acabou fazendo um ensaio literário sobre a cidade, privilegiando fontes orais e jornalísticas. Na reportagem-crônica “Os Anos Loucos de Londrina” fica claro o paralelo que queremos traçar entre a economia cafeeira e a boemia:

“Corria um tempo em que, como se diz, se amarrava cachorro com lingüiça e se ganhava dinheiro a rodo. Amavam-se mulheres finas, admiráveis, beldades que se revezavam, lindas e muitas trazidas e chegadas de todas as partes. Havia chilenas, argentinas, mexicanas, bolivianas, as melhores cariocas, gaúchas, paulistas, uruguaias. Só se bebia champanhe francês e scotch importado. Os cigarros eram americanos e acesos, alguns, ao fogo de notas enroladas de cinco mil réis, no meio da penumbra de mesas ricas dos bordéis de Londrina. O dinheiro rolava solto, ágil, fácil e muito. Inesperado.”

O trabalho e o prazer andavam lado a lado. Moças de todos os lugares do Brasil e do mundo vinham atrás de trabalho na terra onde sobrava dinheiro. Garotas de todos os tipos, para todo o tipo de homem. Anos 40, 50, 60, 70 até que numa manhã de 1975, com a geada negra, tudo mudou. Enquanto Curitiba comemorava a neve um vento gelado cortava todo o Paraná. No norte pioneiro a geada chegou sinistra, disfarçada de chuva. Sem aviso, a geada queimou o “ouro verde” do Norte do Estado, esteio da cafeicultura brasileira. 

Naquele dia fatídico a geada negra se apoderou do Norte do Paraná, dizimando cerca de 850 milhões de pés de café e mudando definitivamente as configurações econômicas de Londrina e região. O dia amanheceu negro.


“Um verdadeiro cataclisma”, noticiavam os jornais da época. Com a queda da economia cafeeira, a boemia perdeu seu glamour e entrou em declínio.

Sem se prender a uma narrativa, será esta fatia da história de Londrina que será representada, de forma poética, neste projeto que irá resultar em um curta metragem, em captação digital e suporte em película 35 mm, em cores, com duração de aproximadamente 15 minutos sob o título “Rubras Mariposas”.

Segundo o diretor do filme, Anderson Craveiro, "esse projeto tenta se aventurar pelas fantásticas e variadas histórias que aconteceram nessa Londrina noturna, ilícita e boemia no universo dos prostíbulos. Da riqueza nos anos 50 à decadência nos anos 70, vemos o doce café se tornar amargo. Confesso que poderíamos rodar filmes até o resto de nossas vidas só sobre esse tema, e ainda não conseguiríamos esgotar as histórias. Por mais polêmico e ainda dogmático, iremos abordá-lo da forma mais humana.

Uma noite no cabaré, um carnaval com centenas de pessoas na rua, uma tarde no cafezal, uma missa, um enterro... Um recorte no cotidiano das pessoas que viviam a boemia.


Obs.: As fotos acima, que ilustram este projeto, fazem parte de um estudo fotográfico-estético do filme, conduzido pelo diretor do filme Anderson Craveiro, realizado no dia 29 de junho de 2011.


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